Solidão e Angústia em Kierkegaard p: 404 -410
Filosofo ou religioso ?
A Posição de kierkegaard leva algumas pessoas a levantar duvidas a respeito do caráter filosófico de seu pensamento. Para elas, trata-se-ia muito mai de um pensador religioso do que um filósofo.Para além das minucias que essa distinção envolveria , cabe verificar o que ela pode trazer de esclarecedor acerca do estilo de pensamento de kierkegaard. Pode-se perguntar, por exemplo quais as questões fundamentais que ele intencionalmente deu a sua obra.
Estamos habituados a ver, na raiz das tentativas filosoficas que se deram ao longo da história, razões da ordem do conhecimento , da politica, da moral.Em kierkegaard não encontramos, estritamente , nenhuma relação dessas motivações tradicionais.Isso fica bem evidenciado quando ele reage às filosofias de sua época -em especial à de Hegel. Não se trata de questionar as incorreções ou as inconstâncias do sistema hegeliano.Trata-se muito mais de rebelar-se contra a própria idéia de sistema e aquilo que ela representa.
Para Hegel, o individuo é uma totalidade sistemática que ultrapassa e na qual, ao mesmo tempo,ele encontra sua realização.O individual se explica pelo sistema, o particular pelo geral. Em kierkegaard há um forte sentimento da irredutibilidade do individuo, de sua especificidade e do caráter insuperável de sua realidade. Não devemos buscar o sentimento do individuo numa harmonia racional que anula as singularidades, mas, sim na afirmação radical da própria individualidade.
De onde provém, no entanto, essa defessa arraigada daquilo que é único? não de uma contraposição teórico-filosófica a Hegel, mas um concepção muito profunda da situação do homem,enquanto ser individual, no mundo e perante aquilo que ultrapassa o infinito, a divindade . A individualidade não deve portanto ser entendida primordialmente como um conceito lógico, mas como solidão caraterística do homem que se coloca como finito perante o infinito. A individualidade define a existência.
Para Kierkegaard , o homem que se reconhece finito enquanto parte e momento da realização de uma totalidade infinita se compraz na finitude, porque a vê como um etapa de algo maior, cujo sentido é infinito.
Ora, comprazer-se na finitude é admitir a necessidade lógica de nossa condição, é dissolver a singularidade do destino humano num curso histórico guiado por finalidade que a partir de uma dimensão sobre humana, dá coerência ao sistema e aplaca as vicissitudes do tempo.
Mas o homem e que se coloca frente a si e a seu destino desnudado do aparato lógico não vê diante de um sistema de idéias mas diante de fatos , mais precisamente um fato fundamental que nenhuma lógica pode explicar:a fé. Esta não é o sucedâneo afetivo daquilo que não posso compreender racionalmente ; tampouco é um estágio provisório que dure apenas enquanto não se completam e fortalecem as luzes da razão. É, definitivamente , um modo de existir.
E esse modo me põe imediatamente em relação com o absurdo e o paradoxo.O paradoxo do Deus feito homem e o absurdo das circunstância do advento da verdade.
Cristo, enquanto Deus tornado homem, é o mediador entre homem e Deus. É por meio de Cristo que o homem se situa existencialmente perante Deus. Cristo é portanto o fato primordial para compreensão que o homem tem de si. Mas o próprio Cristo é incompreensível. Não há portanto uma mediação conceitual , algum tipo de prova racional que me transporte para a compreensão da divindade de. A mediação é o cristo vivo, histórico, datado, e o fato igualmente incompreensível do sacrifico na cruz . Aqui se situam as circunstancias que fazem do advento da Verdade um absurdo: a Verdade não foi revelada com as pompas co conceito e do sistema. Ela foi encarnada por um homem obscuro que morreu na cruz como um criminoso.
O acesso à verdade suprema depende pois da crença no absurdo, naquilo que São Paulo já chamado de "loucura". No entanto, é o absurdo que possibilita a Verdade. Se permanecesse a distância infinita que separa Deus e o homem, este jamais teria acesso à Verdade. Foi a mediação do paradoxo e do absurdo que recolocou o homem em comunicação com Deus. Por isso devemos dizer:creio porque é absurdo. Somente desta maneira nos colocamos no caminho da recuperação de uma certa afinidade com o absoluto.
Não há, portanto, outro caminho para a Verdade a não ser o da interioridade, o aprofundamento da subjetividade. Isso porque a individualidade autêntica supõe a vivência profunda da culpa: sem esse sentimento, jamais nos situaremos verdadeiramente perante o fato da redenção, e consequentemente , da mediação do Cristo.
O Sofrimento necessário
A subjetividade não significa a fuga da generalidade objetiva: ao contrário, somente aprofundando a subjetividade e a culpa a ela inerente é que nos aproximaremos da compreensão original de nossa natureza: o pecado original. E essa compreensão irradia luz sobre a redenção e a graça, igualmente fundamentais para nos sentirmos verdadeiramente humanos , ou seja, de posse da verdade humana do cristianismo. A autêntica subjetividade, insuperável modo de existir, se realiza na vivência da religiosidade cristã.A subjetividade em kierkegaard não é tributária apenas da atmosfera romântica que envolvia sua época.
Seu Profundo a-histórico tem a ver, mais do que com essa característica do romantismo , com uma concepção de existência que torna todos os homens contemporâneos de Cristo. O fato da redenção , embora histórico,possui uma dimensão que o torna referencia intemporal para vivenciar a fé.O cristão é aquele que se continuamente em presença de Deus pela mediação do Cristo. Por isso a religião só tem sentido se for vivida como comunhão com o sofrimento da cruz.Por isso é que Kierkegaard critica o cristianismo de sua época , principalmente o protestantismo dinamarquês, penetrando segundo ele, de conceituação filosófica que esconde a brutalidade do fato religioso minimiza a distancia entre Deus e o Homem e sufoca o sentimento de angustia que acompanha a fé.
Essa angustia no entender de kierkegaard , estaria ilustrada no episódio do sacrifício de Abrão. Esse relato bíblico indica a solidão e o abandono do individuo voltado unicamente para a vivencia da fé. O que Deus pede a Abraão - que ele sacrifique o único filho para demonstrar sua fé - é absurdo e desumano segundo a ética dos homens.
Não se trata, nesse caso , de optar entre dois códigos de ética, ou entre dois sistemas de valores. Abraão é colocado diante do incompreensível e diante do finito. Ele não possui razões para medir ou avaliar qual deve ser sua conduta. Tudo está suspenso, exceto a relação com Deus.
O salto da Fé
Abraão não está na situação do herói trágico que deve escolher entre valores subjetivos (individuais e familiares) e valores objetivos ( a cidade, a comunidade), como no caso da tragédia grega. Nada esta em jogo ,a não ser ele mesmo e a sua fé. Deus não esta testando a sabedoria de Abraão, da mesma forma como os deuses testavam a sabedoria de Édipo ou de Agamenon.A força de sua fé fez com que Abraão optasse pelo infinito.
Mas, caso o sacrifício se estivesse consumado Abraão ainda assim não teria como justificá-lo à luz de uma ética humano. Continuaria sendo o assassino de seu filho. Poderia permanecer durante toda a vida indagando acerca das razões do sacrifício e não obteria resposta. Do ponto de vista humano, a duvida permaneceria para sempre. No entanto Abraão não hesitou: a fé fez com que ele saltasse imediatamente da razão e da ética para o plano do absoluto, âmbito em que o entendimento é cego. Abraão ilustra na sua radicalidade a situação de homem religioso. A fé representa um salto, a ausência de mediação humana, precisamente porque não pode haver transição racional entre o finito e o infinito. A crença é inseparável da angustia, o temor de Deus é inseparável do tremor.
Por tudo o que a existência envolve de afirmação de fé, ela não pode ser elucidada pelo conceito. este jamais daria conta das tensões e contradições que marcam a vida individual. Existir é existir diante de Deus, e a incompreensibilidade da finitude divina faz com que a consciência vacile como diante de um abismo. Não se pode apreender racionalmente a contemporaneidade de Cristo, que faz com que a existência cristã se consuma num instante e ao mesmo tempo se estenda pela eternidade. A fé reúne a reflexão e o êxtase, a procura infindável e a visão instantânea da verdade; o paradoxo de ser o pecado ao mesmo tempo a condição de salvação, já que foi por causa do pecado original que Cristo veio ao mundo . Qualquer filosofia que não leve em conta essas tensões , que afinal são derivadas de estar o finito e o infinito em presença um do outro , não constituirá fundamento adequado da vida e da ação. A filosofia deve ser imanente à vida. A especulação desgarrada da realidade concreta não orientará a ação, muito simplesmente porque as decisões humanas não se ordenam por conceitos , mas por alternativas e saltos.
Seu Profundo a-histórico tem a ver, mais do que com essa característica do romantismo , com uma concepção de existência que torna todos os homens contemporâneos de Cristo. O fato da redenção , embora histórico,possui uma dimensão que o torna referencia intemporal para vivenciar a fé.O cristão é aquele que se continuamente em presença de Deus pela mediação do Cristo. Por isso a religião só tem sentido se for vivida como comunhão com o sofrimento da cruz.Por isso é que Kierkegaard critica o cristianismo de sua época , principalmente o protestantismo dinamarquês, penetrando segundo ele, de conceituação filosófica que esconde a brutalidade do fato religioso minimiza a distancia entre Deus e o Homem e sufoca o sentimento de angustia que acompanha a fé.
Essa angustia no entender de kierkegaard , estaria ilustrada no episódio do sacrifício de Abrão. Esse relato bíblico indica a solidão e o abandono do individuo voltado unicamente para a vivencia da fé. O que Deus pede a Abraão - que ele sacrifique o único filho para demonstrar sua fé - é absurdo e desumano segundo a ética dos homens.
Não se trata, nesse caso , de optar entre dois códigos de ética, ou entre dois sistemas de valores. Abraão é colocado diante do incompreensível e diante do finito. Ele não possui razões para medir ou avaliar qual deve ser sua conduta. Tudo está suspenso, exceto a relação com Deus.
O salto da Fé
Abraão não está na situação do herói trágico que deve escolher entre valores subjetivos (individuais e familiares) e valores objetivos ( a cidade, a comunidade), como no caso da tragédia grega. Nada esta em jogo ,a não ser ele mesmo e a sua fé. Deus não esta testando a sabedoria de Abraão, da mesma forma como os deuses testavam a sabedoria de Édipo ou de Agamenon.A força de sua fé fez com que Abraão optasse pelo infinito.
Mas, caso o sacrifício se estivesse consumado Abraão ainda assim não teria como justificá-lo à luz de uma ética humano. Continuaria sendo o assassino de seu filho. Poderia permanecer durante toda a vida indagando acerca das razões do sacrifício e não obteria resposta. Do ponto de vista humano, a duvida permaneceria para sempre. No entanto Abraão não hesitou: a fé fez com que ele saltasse imediatamente da razão e da ética para o plano do absoluto, âmbito em que o entendimento é cego. Abraão ilustra na sua radicalidade a situação de homem religioso. A fé representa um salto, a ausência de mediação humana, precisamente porque não pode haver transição racional entre o finito e o infinito. A crença é inseparável da angustia, o temor de Deus é inseparável do tremor.
Por tudo o que a existência envolve de afirmação de fé, ela não pode ser elucidada pelo conceito. este jamais daria conta das tensões e contradições que marcam a vida individual. Existir é existir diante de Deus, e a incompreensibilidade da finitude divina faz com que a consciência vacile como diante de um abismo. Não se pode apreender racionalmente a contemporaneidade de Cristo, que faz com que a existência cristã se consuma num instante e ao mesmo tempo se estenda pela eternidade. A fé reúne a reflexão e o êxtase, a procura infindável e a visão instantânea da verdade; o paradoxo de ser o pecado ao mesmo tempo a condição de salvação, já que foi por causa do pecado original que Cristo veio ao mundo . Qualquer filosofia que não leve em conta essas tensões , que afinal são derivadas de estar o finito e o infinito em presença um do outro , não constituirá fundamento adequado da vida e da ação. A filosofia deve ser imanente à vida. A especulação desgarrada da realidade concreta não orientará a ação, muito simplesmente porque as decisões humanas não se ordenam por conceitos , mas por alternativas e saltos.
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