sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Kierkegaard explicado de forma simplificada

Trecho extraído do livro 

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 4. ed., rev. São Paulo: Moderna, 2009. 479 p.

p: 195 a 196.


No final do século XIX e início do seguinte, a crise da razão delineou-se mais claramente e repercutiu em todo o século XX, o que levou à necessidade de se repensar a filosofia. Pensadores de influência marcante, como os alemães Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzsche e o dinamarquês Soren Kierkegaard, são alguns dos que puseram à prova os alicerces da razão.

Kierkegaard: razão e fé

Soren Kierkegaard (1813-1855), pensador dinamarquês, é um dos precursores do existencialismo contemporâneo. Dentre suas obras, destacamos Temor e tremor, O conceito de angústia, Migalhas filosóficas.
Severo crítico da filosofia moderna, Kierkegaard afirma que desde Descartes até Hegel o ser humano não é visto como ser existente. mas como abstração -reduzido ao conhecimento objetivo -, quando na verdade a existência subjetiva, pela qual
o indivíduo toma consciência de si, é irredutível ao pensamento racional, e por isso mesmo possui valor filosófico fundamental.
A esse respeito, o professor Benedito Nunes completa:
Não se diga, porém que ela [a existência] é incognoscível. Ao contrário, dada a imediatidade, para o homem, entre ser e existir, o conhecimento que temos da existência é fundamental, prioritário. O homem se conhece a si mesmo como existente. Esse conhecimento, inseparável da experiência individual, não transforma a existência num objeto exterior ao sujeito que conhece.'
Para Kierkegaard, a existência é permeada de contradições que a razão é incapaz de solucionar. Critica o sistema hegeliano por explicar o dinamismo da dialética por meio do conceito, quando deveria fazê-lo pela paixão, sem a qual o espírito não receberia o impulso para o salto qualitativo, entendido como decisão, ou seja, como ato de liberdade. Por isso é importante na filosofia de Kierkegaard a reflexão sobre a angústia que precede o ato livre.
A consciência das paixões leva o filósofo -e também teólogo -a meditar sobre a fé religiosa como estágio superior da vida espiritual. Para ele, a mais alta paixão humana é a fé. É ela que nos permite o "salto no escuro" que é o "salto da fé". Mas ela é, também, uma paixão plena de paradoxos. Como exemplo, o filósofo cita Abraão, personagem do Antigo Testamento que se dispõe a sacrificar o próprio filho para obedecer à ordem divina: não porque a compreendesse, mas porque tinha fé. O estágio religioso é para Kierkegaard o último de um caminho que o indivíduo pode percorrer na sua existência, sendo superior inclusive à dimensão puramente ética .


A história de Abraão é relatada no livro do Gênesis. Kierkegaard, em Temor e tremor, pergunta-se o que teria levado Abraão a transgredir a sua virtude de pai, que "deve amar o filho mais do que a si mesmo". Ele o faz não para salvar um povo ou apaziguar a ira dos deuses, mas porque Deus lhe exigiu essa prova de fé, que ele aceita,
apesar do absurdo e do seu conflito entre o dever para com o filho e o
dever para com Deus. Com seu ato, transcendeu a ética. Um anjo deteve sua mão no momento final. Reflita com um colega a respeito da  hierarquia entre ética e religião.
 O que você faria no lugar de Abraão?





Fonte:Rembrandt Abraham en Isaac, 1634.jpg. From Wikimedia 

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