sexta-feira, 29 de abril de 2016

Kierkegaard - História da Filosofia - François Châtelet -Wanda Bannour.


Histoire de la philosophie, idées, doctrines Volume 5 La philosophie et l'histoire : de 1780 à 1880
Responsable(s) : sous la direction de François Châtelet

Hachette Littératures , Paris collection Pluriel , numéro 978 , collection Histoire de la philosophie, idées, doctrines , numéro 5 , (août 2000)Poche.

Résumé:Propose une vulgarisation des idées philosophiques en évitant toute exhaustivité et finalité. Avec une bibliographie complémentaire actualisée depuis l'édition originale de 1972. ©Electre 2016Fonte:http://www.laprocure.com/histoire-philosophie-idees-doctrines/9782012790056.html

"François Châtelet (Boulogne-Billancourt , 27 de abril de 1925 - Paris , 26 de dezembro de 1985) foi um historiador da Filosofia,filósofo político e professor francês. Considerado como um filósofo aberto ao seu tempo, Châtelet se insere na grande tradição de Sócrates, de quem traça um retrato fascinante em seu livro Platon."
Wanda Bannour filósofa. De origem russa, ela publicou sua tese sobre Russian niilistas (Anthropos, 1979) e por vinte anos tem escrito numerosos biografias: Eugenie de Guerin ou uma castidade ardente (Albin Michel, 1982), Edmond e Jules de Goncourt ou o gênio andrógina (Persona, 1984), o estranho Baronesa Von MEKK (Perrin, 1988), Meyerhold, um showman brilhante (La Difference, 1996).

Referência do livro em português: CHÂTELET, François. História da filosofia: ideias, doutrinas.A Filosofia e a História(1789-1880).  Rio de Janeiro: Zahar, 1973-1983. 5 v.
     Neste livro organizado por François Châtelet, sobre a história da filosofia em 8 volumes, no livro 5  capitulo IX  tem  um artigo sobre Kierkegaard, escrito por Wanda Bannour: páginas 257-265.

Kierkegaard

"O que falta à nossa época não é reflexão, mas a paixão"


 Kierkegaard propõe-se ser, no século dos sistemas, o pensador da subjetividade apaixonada.Ao proclamar que "um grande saber não é um bem absoluto", Kierkegaard rompe não somente com Hegel,não somente com o sistema filosófico, mas com o próprio projeto da filosofia. Recusa ao mesmo tempo o "Que posso fazer saber?" e o "Que devo fazer?" de Kant. Recusa até mesmo o "Que posso esperar?".  A fé não é um problema  filosoficamente situável. Apenas o vir-a-ser cristão interessa a Kierkegaard , ele situa-o no centro de sua vida e sua obra.
 Recusa para si próprio o qualificativo de filósofo:"o presente autor não é de modo algum filósofo".
Kierkegaard não busca a verdade, mas um centro de gravidade para sua vida.
Indiferente à historia , à comunidade politica, aos homens, kierkegaard haure sua alegria  nas ideias, na paixão voluptuosa do pensamento e no ato de escrever.
 Para nós, o problema central de kierkegaard não é, não importa o que se possa pensar, o de kierkegaard: o Indivíduo, a Fé, Deus. Pelo menos, se o é, não nos sentimos afetados. Pois, o que podemos esperar de um discurso é precisamente o que kierkegaard nos recusa: uma certeza que ele julga impossível.
 O problema de kierkegaard suscetível de interessar em nós, não o indivíduo, mas o filósofo, é o do pensamento e da linguagem naquele que recusa, em nome da verdade subjetiva, um e outro.
Pois, como escrever , quando se é indivíduo , com palavras e ideias que pertencem a todos? como dar a entender a outrem a modulação única  da subjetividade secreta, sem  se condenar de antemão a permanecer incompreendido? Como desvelar a verdade , que  não pode ser senão subjetiva, por intermédio da objetividade enganosa e mentirosa? Arriscar-se, como Individuo, a ser capturado por esse mostro sem semblante, a multidão?
 É, contudo, a essa tarefa impossível que se atrela kierkegaard com doravante paixão.Enigmática  paixão em quem, como Kierkegaard, estima que a vida, desde que ela se pense e se fale, é ameaçada pleo fanado e pelo petrificado! Curioso projeto o de escrever, nesse admirador dos vivos silenciosos - Sócrates e Cristo - e que começa por proclamar a impossibilidade de escrever!
 Duplamente curiosos e paradoxais somos nós desde que nos proponhamos, como agora, escrever sobre aquele que contestou a escritura, pensar sobre aquele que contestou o pensamento. Eco, sósia do sósia (kierkegaard sendo o seu próprio eco e o seu próprio sósia ( kierkegaard sendo o próprio eco e o seu próprio sósia), jogo de espelho tal como o de Nymphenburg , residência do príncipe louco Luiz de Baviera, que reflete ao infinito o refletido. segunda carapaça de gelo, a primeira gelado, no kierkegaard, a flor  do coração.  Generalidade segunda murchado a primeira murchidão da generalidade da linguagem Kierkegaardiana.Deterioração da intimidade subjetiva de kierkegaard, defloração de seu segredo, volatização do aroma da ideia, redundância e esterilidade, escandalosa e vã provocação: assim é necessariamente toda palavra sobre o indivíduo Kierkegaard. 
 Nossa reflexão sobre Kierkegaard é uma reflexão envergonhada e necessariamente errônea. É como tal que honestamente, a apresentamos.Pouparemos ao leitor o páthos que habitualmente acompanha toda referência biografia a kierkegaard: não falaremos aqui nem dos problemas ligados ao pai de Søren Kierkegaard, que nas charnecas geladas da Jutlândia cedera à tentação de amaldiçoar a Deus, enfiando assim em sua carne o espinho do pecado.
 Temos bastante confiança na cultura analítica do leitor para evitar até mesmo a alusão à "morte do pai". Não derramaremos lágrimas sobre o noivado rompido com Regina Olsen. Passaremos em silêncio a inqualificável feiura do autor, o apego suspeito ao seu guarda-chuva, o amor à sua coleção de chávenas. Tudo isso foi a tal ponto repisado que a tentação é antes a do pastiche do que a da repetição.
 E já que precisamos falar do pensamento de Kierkegaard, cuidaremos de não imitá-lo e de não cair na prolixidade que ele deplorava nos seus contemporâneos, à qual porém não pôde escapar.

Romantismo, Religião, Neurose


 Embora soberanamente indiferente à história, á cidade aos homens que a habitam, kierkegaard é um filho da sua época. Do romântico tem todas as características, senão todos os estigmas: a insondável  melancolia, o desespero que se exala no canto, o nevermore, a nostalgia.
 Todas essas vivência exprimindo-se numa linguagem singularmente dúctil e poética. Anti-hegeliano feroz, kierkegaard é, sem embargo, hegeliano em seu gosto pela elucidação categorial e na extrema acuidade da consciência de si. A atração que experimente pelo demoníaco, atração fundamentalmente estética, é a retomada pela inteligência ( a de Kierkegaard é bem desenvolvida) das figuras mefistofélicas bem descritas por Goethe, Byron, Lermontov. Sua fascinação por Don Juan - ele foi mais seduzido que sedutor - é o aspecto musical, mozartiano , de sua intelectualidade voluptuosa. Seu senso do secreto tem tanto de Usher e de Melmoth quanto do interior interiore meo do Eclesiastes.
 Sua religião é tão hostil à dedução racional de uma deus-ideia quanto à instiruição congelada e mentirosa. É um exercício perigoso, ofegante, um trabalho sem rede de proteção onde o abismo estreita o tempo todo o cristão, arrasta-o no vertiginoso prestissimo da 2.ª sonata em Sol maior de Schumann.  Não se pode censurara a kierkegaard que ele e tenha instalado numa religiosidade licorosa e cheia de beatitude ou, à maneira de Kant, que tenha habilmente formalizado o pietismo.
 Kierkegaard não inclui nem a mordedura do pecado, nem o precipício entrevisto da danação eterna nem a visão terrificante do semblante coroado de espinhos.Viveu as mil mortes do crente que vê o seu Deus, morre e renasce. esteve em Morija com Abraão, com ele conheceu a angústia da derrelição absoluta, a solidão até a loucura, mas com ele também, no instante fulgurante, venceu a Deus. Para além do trágico da ética, kierkegaard será o cavaleiro da fé. 
 Romantismos e religião emaranham-se, na noite dos abismos, em pulsões às quais  não procuraremos chegar. Não está em nossas possibilidade, de resto não é absolutamente o nosso projeto. Contentemo-nos com observar que o caso de kierkegaard lança um luz singular sobre a etiologia dessas duas neuroses sublimes, a romântica e a religiosa. Por mais inquietante que seja o conclui de uma sensualidade doente com o sentido do pecado e o fervor poético, saudemos de passagem o prodígio da loucura superada no e pelo ato de escrever.

A filosofia sob Acusação: A DISTRAÇÃO FILOSÓFICA

 Kierkegaard fez o percurso completo do sistema - e do  mais acabado de todos, o sistema hegeliano -  e nele não se encontrou enquanto existente. Em seguida a Heráclito, viu toda movência dissolver-se no conceito:
"como  o movimento, a existência é um comércio muito difícil. se eu a penso, suprimo-a e assim não a penso. Poderia, pois, parecer exato  que há alguma coisa que se recusa ao pensamento : a existência. Mas a dificuldade reaparece: a existência restabelece a conexão do fato de que o sujeito pensante existe"(Post-scriptum).
"Quem diz sistema diz mundo fechado, mas a existência é justamente o contrário".
 A totalidade é a totalidade pensada, abstrata fechada, é a imanência completa. Ora, a existência é vivida, ela é abertura, qualidade, salto, transcendência.
Todo pensamento é do passado, um Hegel é tautologista e só fala o passado, "...mas se a inteligência do passado deve ser a tarefa suprema de um homem ainda em vida, esse positivismo é um ceticismo"(Post-sriptum).
 O pensamento  cerca a vida, faz com que feneça e se petrifique. O sistema instala todas as coisas num contínuo abstrato; ora, a experiência é descontinua, dá saltos.O sistema é diplomata: concilia e reconcilia. A existência é escolha, alternativa, é o "ou bem... ou bem...".
 O sistema é pacificador, dá segurança, a existência é angústia. Ela conhece as crises agudas, as irradiações, o instante pontual e decisivo, os desfiladeiros da angustia, os abismos do desespero.
 A verdadeira dialética não é a dialética objetiva de  Hegel, a racionalidade do conceito operante na história, mas a dialética apaixonada, qualitativa da subjetividade.
 A história não é o elemento do espirito aparecendo no tempo, mas algo de abstrato e de inexistente que o pensador apaixonado ignora, o qual, a todo instante, pode torna-se contemporâneo no pretenso passado.
 Deus não é a Ideia absoluta, mas uma pessoa, Cristo, com quem o indivíduo dialoga e vive. A crença não encontra lugar no sistema como momento do vir-a-ser do Espírito, ela é o ato do pensador solitário. Ela é o risco absoluto, o escândalo, a impossibilidade de certeza. Nela efetua-se a perigosa junção da interioridade e da transcendência.

O Não-Pensável e o Não-Falável. A VIDA

 A vida:"A filosofia é a ama-seca da vida"(Diário) e sobrecarrega-a de peles velhas. O filósofo é um homem em estado de dessecação. O pensamento seca as águas vivas, congela as flores do coração, contamina e perverte a ingenuidade do vivo. Sob o Efeito do pensamento tudo se Fana e se petrifica.
Aporia: o pensamento da vida é o estancamento da vida.
A existência: síntese do eterno e temporal, do infinito e do finito, é radicalmente rebelde ao conceito e ao sistema. O pensamento "...baralha tudo volatizando a existência sem a qual está, de fato, destinado ao fracasso."
Aporia: preciso pensar a existência impensável, sem a qual não há pensamento algum.
O Indivíduo: grão de areia no sistema, deste o momento em que ele se fala, está roubado a si próprio. Sua palavra é um eco doloroso: e todas essas pessoas que dizem a vocês que são como vocês!
Donde o cuidado, no Indivíduo, permanecer o ser escondido, o segredo.
 Esse cuidado de preservar a Individualidade é incontestável de inspiração cristã: Kierkegaard retoma a parábola da ovelha desgarrada e recorda que o cristo distinguia João dos outros apóstolos. Compreendemos então que kierkegaard se asfixie no sistema hegeliano.
 Está no destino do Individuo ser o solitário: donde a atração de kierkegaard por todos os irregulares.O ladrão, salteador (personagem romântico que fascinará igualmente Bakúnin, que faré de Pugatchev o modelo do anarquista), Dom Quixote, o Bufão. O solitário absoluto é o louco. Observemos que se chama "louco do rei" ao bufão, que Dom Quixote faz figura de louco e que a patologia mental tende a fazer do criminoso um alienado.
É o temor da loucura, que  faz com que nos arrojemos no sistema e nos deixemos engolir pela fascinação do total. Ninguém quer ser um existente individual. 
 O Indivíduo consciente das categorias existências, inventoria-as lucidamente por meio do pseudo-anonimato:
"Fiz falar e ouvir a individualidade real na sua ficção que produz, ela mesma, a própria concepção da vida representada"(Post-sriptum).
Aporia: o Indivíduo que fala volatiliza a verdade que só existe no subjetivo.
Verdade: a verdade já indica o caráter não-verdadeiro desta. Só a subjetividade é a verdade; seu elemento é a interioridade. Ela não se exprime em termos de certeza, ela é a incerteza Objetiva, mantida na apropriação da mais apaixonada interioridade, [que] é a verdade, mais alta verdade que possa haver para um existente"(Post-scriptum).
Aporia: o Homem da verdade é o homem da ignorância (Sócrates).
Deus: ele é o Indivíduo por exelência. Assim o experimentou Pascal, assim hão de experimentá-lo os filósofos da existência (Dostoievski, Chestov, Berdiaev).
A fé é a relação privada do Indivíduo com  Cristo. A subjetividade apaixonada do cristão é lugar único da verdade, verdade paradoxal, cristianização do existente e encarnação de Deus, contemporaneidade do pensador religioso com Cristo.
 Deus não é revelado senão nos fulgurante extático do instante, a fé é  o supremo perigo, mas
                                       onde cresce o perigo
                                       cresce também o que salva

                                                        (Hölderlin)

 Aporia: o instante do acesso a Deus é a renúncia do existente que, pelo fato de existir, não encontra a Deus a não ser para perdê-lo.


Tempo e Eternidade. Finito e Infinito


 A primeira tentação é o dom-juanismo a fascinação pelo instante evanescente. O estético é o erótico, o demoníaco, a música. A maldição de Don Juan é a de ser espreitado e capturado pela inteligência. O erótico reflete-se, Don Juan que se pensa não goza mais, Mas, de maneira muito hegeliana, Kierkegaard-Don Juan compreende na reflexão schopenhauriana, a narcose da música, então, como o demônio de Lenau, tornaria o seu violino e paralisaria o momento reflexivo.
  Mas kierkegaard é um Don Juan meditativo e loquaz.Por isso perde o imediato do gozo e aborda a ironia, categoria existencial que, ao mesmo tempo, prepara e supõe a ética, pois para o ironista, a ética tem uma importância absoluta.

 A ironia é a cultura do espirito, ela sucede à imediatidade; depois vem o ético, depois, o humorista e , enfim, o espirito religioso"(Post-scriptum).

 A ética é o repouso do pensamento.É o tempo que tornou continuo, consistente, o homem que se tornou sério, razoável: bom marido, bom pai, bom cidadão.
 Adequação da interioridade e da exterioridade. Segurança da generalidade na qual o Individuo se repousa e onde é reconhecido. A ética é o berço do trágico. O herói trágico está em companhia:às suas lágrimas respondem em eco as almas nobres. O Indivíduo pode escapar à angústia da interioridade solitária, expressando-a em alguma coisa de exterior.
 Mas então, de que serve ao Indivíduo sair da segurança do geral? Há aqui um salto do finito ao Infinito, uma interrupção da Eternidade na temporalidade, o surgimento de uma interioridade descobrindo na subitaneidade que ela é incomensurável à exterioridade. É o movimento para o absoluto, o risco absoluto de Abraão sacrificando o filho.O cavaleiro de fé deve decidir sozinho se está simplesmente em crise ou se é o cavaleiro da fé. Temor e tremor, vertiginosa angústia da liberdade.

Kierkegaard e a Filosofia

Kierkegaard provocou o arrombamento do conceito e da linguagem por um Eu existencial, desvencilhou a subjetividade de pântano da psicologia;ele é, na história da filosofia , um acontecimento a-histórico, um grito solitário e sem precedente.
 Mas esse grito não souber ser apenas um grito: Kierkegaard quis possibilitar o impossível. isto é , transmitir um vivência subjetiva e intransponível segundo as modalidades do pensamento e da linguagem, instrumentos por excelência de transmissibilidade.
 Dai se originaram impasses e aporias, nos quais voluptuosamente se espojou, desejoso de experimentar até o fim a vertigem da impossibilidade e o estilhaçamento do pensamento contra o indizível. Para ser fiel a Kierkegaard , seria preciso dizer que ele só nos transmitiu um erro, toda palavra que visa à objetividade sendo uma traição da verdade, que é subjetividade.
 Esse anti-hegeliano é como já observamos, um hegeliano como seu cuidado de categorizar as atitudes do existente, de promover universais existências. Homem de desejo, como ele próprio confessou, mas de um desejo negado, pervertido, sublimado, existindo-se no frenesi da linguagem onde a imersão no absoluto se desforra num alto voo pela palavra.
 Palavra musical, poética, toda nuança furtivas;volúpia da inteligência onde a tentação da carne se transmite ao espírito transmutando me retórica saltatória a aceleração e desaceleração vertiginosa do organismo.
 Incompreendido pela multidão, dilacerado pela contradição, confundido o ofício de viver e ofício de escrever prolixo ao excesso - ele, que deplora "a prolixidade refletida dos modernos"-: a paixão de escrever consumiu Kierkegaard, mais talvez que a paixão do existente atormentado pelo vir-a-ser cristão.
 Essa desconfiança de Kierkegaard com relação ao conceito e à palavra deixa-nos livres para mostrarmos desconfiados a seu respeito, para introduzir um desconfiança em face dessa desconfiança. E do mesmo modo que Abraão era livre para decidir se era um louco ou um eleito, assim também temos a liberdade de decidir entre um Kierkegaard cavaleiro da fé e um Kierkegaard louco.
 A não ser que, numa descida aos abismos, alcancemos esse grau de incandescência onde as duas opções cessam de ser uma alternativa para se reabsorverem no ponto de fusão onde se aniquila, com a possibilidade de julgar, a possibilidade da própria filosofia.

Bibliografia

Obras: 

Œuvres complètes de Søren Kierkegaard
, Tomes XIII et XVIII. Traduit du danois par Paul-Henri Tisseau et Else-Marie Jacquet-Tisseau. Introduction de Jean Brun. Editions de l'Orante, Paris, 1966.

Estudos:

GRIMAULT, Marguerite. Kierkegaard: par lui-même. Paris: Seuil, 1962. 191.

Johannes HOHLENBERG, S
øren Kierkegaard, Traduit du danois par P.-H. Tisseau,Paris, Editions Albin Michel,. (1956), pp. 379.

Pierre Mesnard, Le vrai visage de Kierkegaard, Beauchesne, Paris, 1948.

WAHL Jean : Etudes Kierkegaardiennes. Ed. Lib. Vrin. 1949. Ft. In 8 br. 644pp. papier légèrement jauni.

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